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sábado, 28 de janeiro de 2012

Partitura

"Dreaming of Paradise" - S. R . Hobson, Atlanta-USA
Às vezes, só o que o coração quer é uma madrugada solitária 
Um divagar à meia-noite ao som da poesia da canção
Das notas a percorrer os caminhos do que está por vir
Do que se espera chegar... logo, sincero, real, certeiro 

A saudade canta no ritmo das cordas do violão 
Sentindo falta do que nem sabe o que, nem sabe quem
Querendo preencher o que nem vazio é
Na ânsia de encontrar o que a faça existir com mais razão

E enquanto desafina nos tons que mal sabe entoar
Procura a melodia que a leve de volta a seu lugar
Que traga de volta borboletas, rubores e o palpitar

Conforta-se com o sentir alheio e seus encantos
Com suas frases bem escritas, cheias de esperança e verdade
Permanece à espera de conseguir afinar sua própria música.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Quereres

Estrella Durmiente - Angel Soto, Managua, Nicaragua
Queria que cada tilintar da minha alma fosse tão harmônico como um soneto de Camões. Que a cada curva, tudo se movesse ao mesmo tempo, que acompanhasse o percurso. Que minha razão e os comandos objetivos dominassem minha loucura emotiva.

Queria um jardim secreto, com muros verdes, flores brancas e um pequeno lago. Deslizar com os ventos, entrar nos troncos das árvores, balançar como suas folhas, e depois soltar-me esvoaçante e livre.

Queria um caderno que anotasse os pensamentos e sentimentos que não tenho coragem de registrar, ou que simplesmente não consigo. E falar a língua dos corações, para conversar com cada um deles; ou pelo menos com vários deles. 

Queria poder abraçar as músicas que amo, que me tocam e confortam. São minhas companheiras de alegria, de fossa, de incertezas e esperanças. Queria poder retribuir, e dizer Obrigada, vocês me fazem bem. 


Queria mergulhar no mar mais bonito, límpido e profundo, sem medo de me afogar ou bater em pedras. Queria poder confiar em suas águas e seres, e compartilhar de sua imensidão. Queria ser parte de seu viver, e que ele fosse parte do meu.

Queria poder guardar em um potinho tudo o que me traz harmonia, que me preenche com verdade e cor, para que sempre estivesse por perto. E que seu tesouro nunca desbotasse, assim como laços eternos que apenas transformam e fortalecem.


quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Olhos de Horizonte

Bubbles In London - Lucas Jund, Praz sur Arly, France

Gosto de sorrisos despretenciosos
De ver rodopiarem as folhas com o vento
Abraços sinceros e ligações inesperadas
De sentar no banco da praça e ver o sol se pôr
Conversar sobre como mudar o mundo
E qual o sabor preferido de sorvete

Gosto do que brilha lá do fundo
Quando ao primeiro olhar se revela
Sem máscaras, medos ou truques
Com defeitos, imperfeições e dores
Mas com coragem, verdade e vontade

Gosto de pessoas alegres
De coisas coloridas e situações envolventes
Mas também das tristes e nostálgicas
Desde que estejam só de passagem

Gosto de sentir o que vejo
De beijar o sentimento
E enxergar com olhos de horizonte

Gosto de viver
De amar intensamente

Gosto...


terça-feira, 13 de setembro de 2011

Metamorfose

Mermaid Miya -  Busan, Korea South
Subo na árvore mais alta do parque
Tento enxergar uma área de embarque
Para o próximo torpor
Voar para onde haja cor

Cansei destes tons pastéis
Cinzas de antigos anéis
Que aos poucos voam
E apenas no passado ecoam

Venha vento!
Leve o que já não me define
Antes que a primavera termine
Traga-me flores, "Sóis" e sabores.

sábado, 9 de julho de 2011

Ressaca

Nostalgia - Juan Rodriguez - Sincelejo/Colombia


Me alimento do que me toca, me traduz e me lembra...
Do que eu queria ser, do que um dia eu fui, do que escondo que sou, do que ainda restou.
Às vezes grito, me escancaro. Outras me envergonho e mascaro as imperfeições.


Transições,
Tempestades,
Ansiedade,
Saudade.

Chegue logo calmaria!

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Ressurgir

Creation of sun -- Valeria G, Rome, Italy
Depois de tantas tempestades, o corpo frágil, emocional, começa a ganhar fibras e músculos. Algumas quedas, socos e tapas o fazem enrijecer. Mas não completamente. 

Começa a conciliar pedras e flores dentro de si. A proteger-se como um soldado que luta bravamente no campo de batalha, sem desistir. Apenas passa a enxergar os melhores caminhos, a usar os escudos quando preciso, e a sorrir para manter a força. 

As fissuras das montanhas de desafios o lapidam. Retiram as máscaras e cascas, que já não lhe servem para nada. Percebe o valor de cada verdade, de estampá-las em seus gestos e sentimentos. 

Ainda tem medo, mas os enfrenta. Ainda sente dores, chora, desespera-se. Mas não esmorece. Continua. Agarra-se em si mesmo. Acredita. Agora sem vendas, amarras e egoísmos. Sente o que lhe toca. Expressa o que o coração lhe pede. Vive!

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Batalha

Bulb -- Trevor Parker, Atlanta, USA.jpg
Um grito ecoa das profundezas
De todo o emaranhado sentimento
Que percorre cada estrada, rua, beco
As camadas mais sutis do ser.

Debate, explode, rebela-se
Contra o que, ou quem, já nem sabe...
Apenas luta.

Busca respostas, caminhos
Em vão.
Perde-se e caminha em círculos
Voltas, voltas, voltas
Para. Pensa. Já não sabe mais o que procura.

Rende-se.

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Passagem

My feet wont touch the ground -- Gisela, Concordia Entre Rios, Argentina

O tempo para.
Dá voltas envolta de si
Envolve e prende
Traiçoeiro como saci.

O tempo não para.
Corre para longe
Mostra novo horizonte
Deixa o ontem para trás.

O tempo volta.
Mais uma vez traz nas costas
O vento do sentimento
De ser aquele de sempre.

O tempo se vai.
Para nunca mais
Lembrar o que se apaga
Com o sopro do adeus.

sábado, 23 de abril de 2011

Fim

Her- Katie Hibbard, Tallahassee, USA

Há um quê de final de outono na sua voz
de tristeza que se cala no fundo do peito
e me diz já sem jeito que o futuro é a sós.

O vento em brisa leva a doçura para longe
dos meus braços de te ter por perto,
leva o acalento que um dia foi tão certo.

Deixa apenas a imensa saudade, por toda parte
cada lembrança a provocar em cada olhar
como se tudo fosse programado para te procurar.

domingo, 3 de abril de 2011

Conversa Onírica

Nocturno -- Alejandro Gama, Aguascalientes, Mexico

Olá Sonho. Depois de tantos delírios e guerras que travei por e contra ti, sem sucesso, tento agora quem sabe entendê-lo. Tu que machucas pelo passado, pelo presente e pelo futuro, onde eu sei que ainda estarás. Talvez como um sonho bom, espero. 

Como é possível entender algo tão cheio de contradições, metamorfoses e caprichos? A ilusão que o acompanha o faz assim, não é? Ora um conforto, uma nuvem azul aconchegante. Ora um pesadelo, uma chuva de espinhos. 

Se tu fosses um ser, me comoveria. Ofereceria ajuda. Ao menos ouvidos e ombros. Mas tu és um sonho. Imensidão de desejos de realidade. Será que um dia deixarás de ser o que é? Serias então o preenchimento, uma coisa animada, maior que um simples querer. Seria sentimento com raiz de primavera!

É por isso que não consigo te mandar embora daqui. A esperança das flores é mais forte do que a dor de sua temporada de aspereza. Mas bem que tu podias ser minimamente grato pela acolhida, não é? Encontrou aqui dentro um bom lar, admita. Aqui onde podes fazer chover, rabiscar as paredes, fazer entrar o vento ou o brilho do sol. 

Acho que me acostumei com a tua estadia. Mas não com tua inconstância. Enquanto hesita, terei que adormecê-lo. Dorme Sonho. E me deixa acordar.

segunda-feira, 28 de março de 2011

Eu em pedaços

O todo indivisível repartiu-se em dezenas de pedaços
Contradição de sentimentos que fazem tempestade
Saltam loucos em caudas de vento sem direção
Esticam mais do que suporta a força do coração

Não sabe mais o que é, procura por toda parte
as partes de si mesmo, confusas, cegas e surdas
Já não sabem mais qual é seu lugar, um bom lugar
Gritam. Calam na imensidão. Espalham-se. Comprimem.

Uma hora são dor. No minuto seguinte, amor.
Transitam atônitas entre o preto e o branco à procura
Transformam-se em pálidos e insossos tons de cinza.

Anseiam por cores, vibrações iluminadas a encontrar
e juntar novamente os fragmentos de um só espírito
E quem sabe voltar a ser arco-irís no entardecer do outono.

Lichtboom -- Roy Ruiters, Purmerend, Netherlands

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Asas

Liberty -- Maria, Salamanca, Spain














Sorri o coração, a alma
Olhos, lábios, mãos,
Pés, mãos, músculos!


Irresistível vontade
Inebriante lembrança
Inibe qualquer nota destoante


Voa pra todo lugar!
Bem perto, microcosmo de si mesmo
Lá longe, onde só a liberdade alcança

Ah a felicidade!
Perdoa tudo o que a contradiz
É nuvem, chuva, sol e flor

Paz que desprende a poeira
Faz da parte, todo
Transforma amor em asas.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Voltas

Mating Symphony -- Rodrigo Mazza, Rosario, Argentina


Um rodopio, uma brisa
Um tornado, ciclone
Oscilações de uma alma sem controle

Cortinas insandecidas
Abrem, fecham
Confundem como um sonho revolto

Estrelas, lua
Nuvens, trovões
Noite de um coração que grita
Sem norte, sem lugar
Uma ilha, um porto
Um algum lugar que faça sentido

Pulso, respiro
Poros, suspiros
Vibra o sentimento a procurar.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Caixas

Por alguns minutos peço licença à estrutura poética. Às vezes o que pulsa dentro de si não espera o formatar de algumas estrofes em tom subjetivo. Clama pela prosa, não menos sincera.

Admito, porém, que alguma confusão há de se construir com estas frases. Nada mais justo quando são escritas por uma alma com coração e mente desordenados.

É como se houvesse uma enorme caixa de madeira. Fechada. Dentro dela estou eu... pedindo pra sair, forçando a tranca.

Eu empurro, empurro, empurro, e abro-a finalmente.

Mas quando saio, aliviada, liberta enfim!... há outras caixas ao redor, como se fossem setores de mim mesma.

Chego mais perto de uma delas. Parece a mais machucada pelas tentativas de fuga de seu conteúdo. Sua embalagem guarda vestígios de um lindo papel de embrulho, colorido, brilhante! Hoje rasgado. Desbotado. Mas ainda com alguns pedaços bem bonitos. Como se fossem lembranças resistentes em não deixar apagar o passado.

Aproximo-me um pouco mais. Pego a caixa e tento abri-la. Não há sinais de cadeados, nem qualquer laço de fita que a prenda. Por que será que o que há dentro não sai e pronto?

Quando puxo uma de suas abas, noto que há uma espécie de ímã, cola, ou algo semelhante a prendendo. Viro-a de cabeça para baixo, de um lado, do outro. Achei!... não uma abertura, mas um cordão transparente, e iluminado!

O cordão dá a volta por todos os lados, mas sai dos cantos de cima. São como braços de uma luz estranha, que pisca como uma lâmpada fraca. Vêm de dentro da caixa. São parte do conteúdo dela!

Verdadeira contradição e loucura!

O que se esforça desesperadoramente para sair não a deixa abrir. Querer não querendo. Dois pólos contra si.

Talvez o melhor seja me livrar da caixa inteira! Desse jeito ela nunca vai se libertar, e ficará fazendo força e pulando para tentar escapar de seu próprio cadeado.

Mas dentro dessa enorme caixa ainda não há janelas grandes o suficiente. É preciso destrancar outras caixas primeiro.

Pelo menos as outras não pulam.

Vício

Um dia os dedos hão de soltar os espinhos...

Ao som das palavras parece tão simples
Virar do avesso
Pular o muro
Soltar-se

Pois fique apenas com o que realmente é seu!
Dizem as vozes
Dos vizinhos, do alheio
Do interno, da alma

Desprenda-se, oras! É só deixar ir...

Vícios não se vão
Nem têm manual
Para mandar embora

Mas um dia hão de soltar os dedos.